Olho nossa cama.
Palco vazio sem o drama, sem a comédia, do nosso amor.
A nossa cama branca, branca página, em silêncio, de onde tudo se apagou...
Meu Deus! quem poderia ler aquelas ânsias,
aqueles gemidos, aqueles carinhos que a mão do tempo raspou,
como nos velhos pergaminhos?
A nossa cama imensa, como a tua ausência,
tão ampla, tão lisa, tão branca, tão simplesmente cama,
e era, entretanto, um mundo, de anseios, de viagens, de prazer,
oceano, que teve ondas e gritos encapelados, e nele
nos debatemos tantas vezes como náufragos a nadar... e a morrer...
Olho a nossa cama, palco vazio, em nosso quarto,
teatro fechado que não se reabrirá nunca mais...
Nossa cama, apenas cama, nada mais que cama alva cama,
em sua solidão em seu alvor...
Nossa cama: campa (sem inscrição) do nosso amor.
(J.G.de Araújo Jorge)
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